2007-07-03

"A estrela de Gonçalo Enes", Rosa Lobato de Faria (excerto)

Foi a estrela Sírius que o levou até ao mar.
Gonçalo Enes vivia no campo com a mãe, mas tinha aquele enlevo de levantar os olhos da terra, que trabalhava de dia, para o céu que o atraía de noite.
Quando a mãe dormia, se o tempo era quente e a noite serena, vinha sentar-se no escabelo do alpendre a ouvir os ralos e a tentar decifrar aquela imensidão de estrelas que pareciam falar-lhe. Foi o Padre Palma que lhe disse que aquela estrela se chamava Sírius e era a mais brilhante da abóbada celeste a seguir a Vénus, que afinal não era estrela, o que confundiu o pobre Gonçalo que não lhe achava grande diferença das outras estrelas, só maior e menos tremeliquenta. E então concentrou o seu amor pelas estrelas naquela ali, tão formosa, que o fazia pensar se a veriam outros em outras paragens, ou se só ele, no seu palminho de terra, do alpendre da sua casinha caiada, era capaz de enxergar.

1 comentário:

Rui Jorge Afonso disse...

À semelhança da restante obra da autora a escrita é leve e de grande sensibilidade o que faz com que o livro se leia de "uma penada". O argumento, histórico, está muito bem burilado o que coloca este livro ao nível dos melhores de Rosa Lobato de Faria.